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Zine ØØ:
Editorial de Março/Abril!
Março/Abril? Mulheres, Índios e Ovos de Páscoa! Héin?!
......................................................................................... Editorial de Março/Abril!
Março/Abril? Mulheres, Índios e Ovos de Páscoa! Héin?!
Danças Negras
Teatro Cacilda Becker
[Primevos Gestos + Cadiquê?
+ Reú do Sindicato!]
outras danças negras:
– d i s c u t i n d o !!
Teatro Cacilda Becker
[Primevos Gestos + Cadiquê?
+ Reú do Sindicato!]
outras danças negras:
– d i s c u t i n d o !!
1° ponto de discussão
Um sábio professor fez a pergunta chave: é dança dedicada a religiosidade?
Essa pergunta foi elementar. Por ela descobrimos que o espetáculo trazia Nanã pra cena - e a ocultava. As meninas alegaram que a composição coreográfica propunha uma questão atual: a preocupação ambiental. O ser humano, em sua gana destrutiva, ameaça de morte a natureza, em todos seus elementos, terra, água, ar, pra se acabar no fogo do aquecimento global, pra se acabar numa era de gelo, que seguirá às nuvens tóxicas disso aê.
É nesse momento que entra a composição coreográfica da forma que foi. Se a preocupação era ecológica, muito justa por sinal, nenhum outro Orixá teria tanto interesse para estar ali: Nanã está sendo roubada na arte de dar e tirar a vida no planeta!! Decretamos o julgamento de vida/morte para pessoas, bichos, plantas, animais - sem consultar nenhum dos deuses vigentes.
Ecologia VS Consumo Globalizado
Veja bem: todas as nossas coisas urbanas, desde a comida no prato, até as roupas, remédios, acessórios e traquitongas eletrônicas - TUDO está nos empobrecendo, apodrecendo por dentro e por fora, está consumindo o planeta com muita poluição. E não há resistência, assim, de peso mesmo - só a que ainda iremos criar. Talvez no diálogo político, talvez na hecatombe.
E foi dessa forma, crítica, que observei o primeiro passo: o som de abertura. Pensei cá com meus botões "humm... isso está cheirando a Ry Cooder, se metendo de amigo dos povos pra lançar CD de Wordl-Music." Que malvado que eu sou! Era um grupo do Kênia, uma música atual de lá. Com arranjos atuais também. Sem mais detalhes, nem palavras sobre o que eu achei desse CD.
Então um CD que chegou em forma de World-Music, um rótulo atual, serviu de projeção. A imaginação viaja até o velho continente africano. Nossas moças: uma é carioca, criada no maracatu, ao lado de colegas de oficinas, é diplomada em dança moderna, ao lado de colegas de profissão, chegando a dança-afro, visita uma colega bahiana, de santo, passeia pelo budismo pra equilibrar as energias - abrimos a porta dos questionamentos. O que pensar? Vou levar porrada, já vi tudo...
O Valor da Cultura
Se pareceu que TUDO isso dito, foi diminuir o valor da cultura, digo: é EXATAMENTE ISSO que gosto nesse mundo atual. Bem ao contrário do eu, Poeta Xandu nesse esquema, ao contrário das minhas sensações primevas - a plateia discordou de mim: vendo perfeitamente 1 fundamento religioso ali. Uma coreografia, ainda que deslocada da pesquisa na religião, foi ponte para uma reafirmação das identidades na casa. Nesse conjunto de elementos - estamos no seio da pós-modernidade!
Um olhar "Afro" flutua no cosmos. África de brancos, que sempre existiram por lá. Áfricas que pouco guardaram do que se tornou religião por aqui. Porque vim da África: sou preto. Sou Luíza Mahim, negra e afro-mulçumana: sou malê. Sei um canto, que é metade yorubá, metade eu mesmo inventei - pq sequer sei o significado. E busco saber... O negro brasileiro, que joga com recortes: falamos um português proto-banto, vemos cartas ciganas, romã e arruda portuguesas, santos católicos, vestes coloniais, orixás e iorubá dos gege-nagôs, tambores de África, danças indígenas, capoeira brasileira. Afro? Tonalidades do Negro-Brasileiro!
Sou bastante crítico quanto aos ditames do mercado: mercado que vende bugingangas, que oferece novos conceitos, palavras, fala até de novas raças. Mas não é muito ligado em tradição não. Vemos muitos grupos de tradição popular agonizando - por não ter valor de mercado. Vemos a polícia bater em mãe de santo, pessoas comuns se arvoram a depredar santuários particulares. Vemos a força de grupos pentecostais. Alguns buscam o Jesus Negro - um argumento afro-místico, contra a negatividade bíblica para com o "elemento afro".
O racismo norte-americano era legalizado até os anos 70: pretos prum lado, brancos pro outro. O negro Norte-Americano viveu humilhações seguidas: era de "nação", foi escravo "nigger", depois veio a formação do orgulho negro, com o "afro", agora o africano-americano. Um preto brasileiro, o Alexandre Pires, certa vez ganhou um prêmio, como cantor latino. No calor da emoção, joga-se ao chão, beija os pés de Bush, presidente de lá. Nos EUA ele seria enquadrado na raça Latina - que eles inventaram. Ou seria hispânico? Cá entre nós: isso de raça é louco.
Cultura: Ser e Não-Ser.
Ser e Não-Ser. O que somos? Qual cultura? Fora dos "padrões", uma bailarina com seus quilinhos a mais fez uma presença essecial nos Primevos Gestos - foi até comentado na plateia. Fora dos padrões, um mix de técnicas, não fechadas no afro-brasileirismo, ganhou às bençãos de Nanã. Uma Nanã bastante rootz atravessou de Ilhéus ao Rio: em corpo, alma - em mídia digital. Por isso entendo que Carmem Luz diga: "no Brasil não há negro, no Brasil somos tod@s negros". Uma frase muito inteligente - pois aberta.
Encontramos essa mesma discussão rondando a praça das tradições. São grandes esforços diante da "morte cultural". Vemos casas de santo em adaptação ao mundo atual - fazendo despachos "ecologicamente corretos". Vemos algumas delas buscar o isolamento, no resguardo da tradição. Isso foi discutido em "Metrópole mestiça – a música popular permeando a heterogeneidade"* por Ana Stela de Almeida Cunha e Sidnei Barreto. Em linguística, um estudo sobre cantos rituais de xangô muito interessante. Aos seres urbanos cabe respeitar essas decisões e aprender com nossas diversas tradições.
*http://www.fflch.usp.br/dl/gela/downloads/Cunha/Metropole_%20mestica_Cunha_e_Barreto.pdf
Padrões de Alta Cultura
Lembrei-me do Ballet Clássico, onde Carlota Portella sofreu preconceito por estar fora do padrão de "corpo" - virou-se pro Jazz. Depois o Jazz foi "apontado" como "sub-dança", que ela julgava ser a pouca dedicação das escolas aos temperos brasileiros. Veio à mente a luta de Mercedes Baptista para entrar no corpo do Municipal - passou no teste, para homens. Também fora do "padrão", juntou-se ao grupo de Abdias, no TEN, conheceu Katerine Durham, e terminou criando a dança moderna Afro-Brasileira.
Bom, não há uma conclusão para esse caos verborrágico que inventei aqui. Acredito que uma religiosidade popular, verdadeira, é sempre capaz de lidar com novas situações. A urbanidade e o mercado jogam pela pobreza cultural - desmanchando histórias, violentando tradições. O jogo da cultura é caldo grosso, é resistência aos "padrões" impostos, diante de uma pós-modernidade que os atualiza e modifica. É na luta, na busca de entender o caos e formar linhas de resistência - um segundo gesto.
As "danças negras" estarão sempre em conflito com "padrões de alta cultura", que não é apenas bio-tipo, mas também um jogo de mercado. Creio que o Work in Progress da Cia. Aline Valentim forma na linha de resistência. Segue por uma trilha de informações especiais, uma cambuca de gestos sendo trabalhados, raciocínios sendo lapidados - e esse é um Privemo Gesto essencial!
Um sábio professor fez a pergunta chave: é dança dedicada a religiosidade?
Essa pergunta foi elementar. Por ela descobrimos que o espetáculo trazia Nanã pra cena - e a ocultava. As meninas alegaram que a composição coreográfica propunha uma questão atual: a preocupação ambiental. O ser humano, em sua gana destrutiva, ameaça de morte a natureza, em todos seus elementos, terra, água, ar, pra se acabar no fogo do aquecimento global, pra se acabar numa era de gelo, que seguirá às nuvens tóxicas disso aê.
Primevos Gestos
(Nanã no alto)
(Nanã no alto)
É nesse momento que entra a composição coreográfica da forma que foi. Se a preocupação era ecológica, muito justa por sinal, nenhum outro Orixá teria tanto interesse para estar ali: Nanã está sendo roubada na arte de dar e tirar a vida no planeta!! Decretamos o julgamento de vida/morte para pessoas, bichos, plantas, animais - sem consultar nenhum dos deuses vigentes.
Ecologia VS Consumo Globalizado
Veja bem: todas as nossas coisas urbanas, desde a comida no prato, até as roupas, remédios, acessórios e traquitongas eletrônicas - TUDO está nos empobrecendo, apodrecendo por dentro e por fora, está consumindo o planeta com muita poluição. E não há resistência, assim, de peso mesmo - só a que ainda iremos criar. Talvez no diálogo político, talvez na hecatombe.
E foi dessa forma, crítica, que observei o primeiro passo: o som de abertura. Pensei cá com meus botões "humm... isso está cheirando a Ry Cooder, se metendo de amigo dos povos pra lançar CD de Wordl-Music." Que malvado que eu sou! Era um grupo do Kênia, uma música atual de lá. Com arranjos atuais também. Sem mais detalhes, nem palavras sobre o que eu achei desse CD.
Então um CD que chegou em forma de World-Music, um rótulo atual, serviu de projeção. A imaginação viaja até o velho continente africano. Nossas moças: uma é carioca, criada no maracatu, ao lado de colegas de oficinas, é diplomada em dança moderna, ao lado de colegas de profissão, chegando a dança-afro, visita uma colega bahiana, de santo, passeia pelo budismo pra equilibrar as energias - abrimos a porta dos questionamentos. O que pensar? Vou levar porrada, já vi tudo...
Primevos Gestos
(espetáculo)
(espetáculo)
O Valor da Cultura
Se pareceu que TUDO isso dito, foi diminuir o valor da cultura, digo: é EXATAMENTE ISSO que gosto nesse mundo atual. Bem ao contrário do eu, Poeta Xandu nesse esquema, ao contrário das minhas sensações primevas - a plateia discordou de mim: vendo perfeitamente 1 fundamento religioso ali. Uma coreografia, ainda que deslocada da pesquisa na religião, foi ponte para uma reafirmação das identidades na casa. Nesse conjunto de elementos - estamos no seio da pós-modernidade!
Um olhar "Afro" flutua no cosmos. África de brancos, que sempre existiram por lá. Áfricas que pouco guardaram do que se tornou religião por aqui. Porque vim da África: sou preto. Sou Luíza Mahim, negra e afro-mulçumana: sou malê. Sei um canto, que é metade yorubá, metade eu mesmo inventei - pq sequer sei o significado. E busco saber... O negro brasileiro, que joga com recortes: falamos um português proto-banto, vemos cartas ciganas, romã e arruda portuguesas, santos católicos, vestes coloniais, orixás e iorubá dos gege-nagôs, tambores de África, danças indígenas, capoeira brasileira. Afro? Tonalidades do Negro-Brasileiro!
Sou bastante crítico quanto aos ditames do mercado: mercado que vende bugingangas, que oferece novos conceitos, palavras, fala até de novas raças. Mas não é muito ligado em tradição não. Vemos muitos grupos de tradição popular agonizando - por não ter valor de mercado. Vemos a polícia bater em mãe de santo, pessoas comuns se arvoram a depredar santuários particulares. Vemos a força de grupos pentecostais. Alguns buscam o Jesus Negro - um argumento afro-místico, contra a negatividade bíblica para com o "elemento afro".
Primevos Gestos
(espetáculo)
(espetáculo)
O racismo norte-americano era legalizado até os anos 70: pretos prum lado, brancos pro outro. O negro Norte-Americano viveu humilhações seguidas: era de "nação", foi escravo "nigger", depois veio a formação do orgulho negro, com o "afro", agora o africano-americano. Um preto brasileiro, o Alexandre Pires, certa vez ganhou um prêmio, como cantor latino. No calor da emoção, joga-se ao chão, beija os pés de Bush, presidente de lá. Nos EUA ele seria enquadrado na raça Latina - que eles inventaram. Ou seria hispânico? Cá entre nós: isso de raça é louco.
Cultura: Ser e Não-Ser.
Ser e Não-Ser. O que somos? Qual cultura? Fora dos "padrões", uma bailarina com seus quilinhos a mais fez uma presença essecial nos Primevos Gestos - foi até comentado na plateia. Fora dos padrões, um mix de técnicas, não fechadas no afro-brasileirismo, ganhou às bençãos de Nanã. Uma Nanã bastante rootz atravessou de Ilhéus ao Rio: em corpo, alma - em mídia digital. Por isso entendo que Carmem Luz diga: "no Brasil não há negro, no Brasil somos tod@s negros". Uma frase muito inteligente - pois aberta.
Reú da Primeva
(após espetáculo)
(após espetáculo)
Encontramos essa mesma discussão rondando a praça das tradições. São grandes esforços diante da "morte cultural". Vemos casas de santo em adaptação ao mundo atual - fazendo despachos "ecologicamente corretos". Vemos algumas delas buscar o isolamento, no resguardo da tradição. Isso foi discutido em "Metrópole mestiça – a música popular permeando a heterogeneidade"* por Ana Stela de Almeida Cunha e Sidnei Barreto. Em linguística, um estudo sobre cantos rituais de xangô muito interessante. Aos seres urbanos cabe respeitar essas decisões e aprender com nossas diversas tradições.
*http://www.fflch.usp.br/dl/gela/downloads/Cunha/Metropole_%20mestica_Cunha_e_Barreto.pdf
Cadiquê?
(espetáculo da Carmem Luz)
(espetáculo da Carmem Luz)
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Reú do Sindicato da Dança
Lembrei-me do Ballet Clássico, onde Carlota Portella sofreu preconceito por estar fora do padrão de "corpo" - virou-se pro Jazz. Depois o Jazz foi "apontado" como "sub-dança", que ela julgava ser a pouca dedicação das escolas aos temperos brasileiros. Veio à mente a luta de Mercedes Baptista para entrar no corpo do Municipal - passou no teste, para homens. Também fora do "padrão", juntou-se ao grupo de Abdias, no TEN, conheceu Katerine Durham, e terminou criando a dança moderna Afro-Brasileira.
Bom, não há uma conclusão para esse caos verborrágico que inventei aqui. Acredito que uma religiosidade popular, verdadeira, é sempre capaz de lidar com novas situações. A urbanidade e o mercado jogam pela pobreza cultural - desmanchando histórias, violentando tradições. O jogo da cultura é caldo grosso, é resistência aos "padrões" impostos, diante de uma pós-modernidade que os atualiza e modifica. É na luta, na busca de entender o caos e formar linhas de resistência - um segundo gesto.
Reú do Sindicato da Dança
As "danças negras" estarão sempre em conflito com "padrões de alta cultura", que não é apenas bio-tipo, mas também um jogo de mercado. Creio que o Work in Progress da Cia. Aline Valentim forma na linha de resistência. Segue por uma trilha de informações especiais, uma cambuca de gestos sendo trabalhados, raciocínios sendo lapidados - e esse é um Privemo Gesto essencial!
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