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Coreografia e B.Boying - parte 1
É uma preocupação neste trabalho prestar auxílio aos instrutores e organizadores de eventos Hip Hop, onde o B.Boying sempre estará presente. Muito certo, a experiência de cada B.Boy sempre falará mais alto – não sendo esta a questão. Aqui o tema é informar: melhorar a instrução, aprimorar as práticas e liberar o espírito criativo.
O conhecimento sistematizado, que se vale de pensamentos discutidos e escritos, tem o seu valor na medida em que sirva na construção de uma sociedade mais justa e inteligente. Portanto, não estamos falando apenas do mercado de trabalho e/ou do espírito de competição. Uma melhor experiência b.boying é o fundamento.
Bom proveito,Poeta Xandu
Utilizo como ponto de partida a análise realizada por Maxwell Sandeer Flôr no estudo do Street Dance. Pelo prisma significativo da relação corpo e movimento, o autor estuda sua representação e expressão na gênese criativa das danças B.Boying e Hip Hop Freestyle. Sua base material foram imagens coletadas nos festivais: Unesc em Dança (Criciúma), Encontro Floripa de Dança de Rua (Florianópolis), Duplo Balanço (Criciúma) e Festival de Dança de Joinville – fílmes em vídeo do ano de 2006, realizados em Santa Catarina.
*Em muitas partes, o texto não reflete o pensamento do autor - é uma compilação de sua obra, com conhecimento e opiniões diferentes, próprias do Poeta Xandu. Obra:
FLÔR, Maxwell Sandeer. O corpo intérprete e o corpo em performance no Street Dance. PGDCC/Universidade Gama Filho, Porto Alegre, 2007.
Maxwell Flôr se apoia no método “Teatro do Movimento” para realizar sua análise sobre o meio audiovisual estudado, revelando o corpo humano como intérprete e performance. Faz uma reflexão sobre o ato de criar e/ou ato de coreografar uma seqüência em dança, que é objeto de estudo de um coreógrafo.
Definições:Intérprete - corpo na reprodução de uma coreografia.
Performance - corpo que traduz e recria esta ação pré-determinada.
Street Dance
O Street Dance é uma adaptação urbana das manifestações culturais dos Estados Unidos da América – de etnias diversificadas e concentradas na cidade de Nova Yorque. Grandes movimentos migratórios tornaram esta cidade fundamental, formada por descendentes de ingleses, holandeses, irlandeses, alemães, de indígenas americanos e etnias africanas. Ao sul, descendentes franceses também contribuíram para a mistura: o “USA Melting Pot”. Importantes dinâmicas culturais ocorreram em períodos de fome e precariedade do tecido social, seja na grande corrida por empregos da “Ford”, de 1914, como na Crise de 1929, o Crack da Bolsa.
É no Norte político e industrial, Washington, Chicago, Detroit, mas especialmente Nova Yorque, o lugar social que tornará cada uma das adaptações culturais um novo elemento de culto nacional – em música e dança para grandes públicos. São movimentos culturais, em geral, originados em atos religiosos ancestrais e/ou como complemento aos processos laborais de agricultores. Depois são adaptados aos centros urbanos – como festa e como meio de vida. Nos centros urbanos a perda cultural é intensa: a cultura é policiada, mais discriminada que no meio rural - onde resistem aspectos mágicos da vida humana, ainda não civilizada por europeus.
Resumo das principais linhas culturais:
Balada é o fundamento da música-dança camponesa, tanto no domínio cultural francês, como no inglês – trazidas para as colônias da América. No Brasil, de um modo um pouco diferente, é o fundamento da festa junina.
Rag - é considerada a primeira música nacional norte-americana, primeira a ser adotada em universidades. A leitura distorcida das “baladas” francesas, feita por pianistas negros, como empregados domésticos das famílias fazendeiras das colônias ao Sul, tornou a música francesa um “rag”.
Boogie - as baladas mais alegres, do acento francês, foram executadas por pianistas negros, pano de fundo para a “dança de cabaré”. Iniciou no Sul e ganhou destaque com a Corrida do Ouro (saloons). Fez muito sucesso em Nova Yorque, quando mineradores negros saíram do Oeste para Nova Yorque, no início do 1920. Foi considerada a primeira música para festas Soul – uma homenagem dos negros do norte ao “espírito livre” dos negros sulistas.
Blues - o “blues” também ocorreu no sudeste, especialmente como música de funeral e música de colheita dos 1800. Em suas variações, são consideradas culturas africanas, ligadas ao vudu, misturadas com hinos batistas e “baladas” (ou “country”) de tradições medievais inglesas e francesas – surge na história durante o período Abraham Lincoln.
Jazz - circos e cantoras negras migraram para o Norte, levando a cultura do “blues”. No início do 1900 músicos urbanos fizeram derivar para o “jazz”; sendo assim adotado em curso superior. Os primeiros discos de blues e jazz foram gravados por brancos – logo seguido dos expoentes negros.
Rock - as “baladas” (ou “country”) de tradição medieva inglesa foram revigoradas através de um novo “blues” e “jazz”, mais dançantes, derivando-se em “jazz swing” e “rithm’n blues”, “rock” (anos 1940-50).
Soul - dos hinários batistas, com uma maior entrada de negros nas igrejas, surge a música “gospell negra” ou “Soul” (anos 1930).
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Sapateado – escoceses e irlandeses tinham sua música e dança chamadas de geeg. Porém, eram discriminados por seus cabelos vermelhos e sua cultura considerada inferior. Eram chamados “brancos-negros”, habitando próximo ao grupo negro de NY – grupo que adotou o sapateado (tap).
Sapateado – escoceses e irlandeses tinham sua música e dança chamadas de geeg. Porém, eram discriminados por seus cabelos vermelhos e sua cultura considerada inferior. Eram chamados “brancos-negros”, habitando próximo ao grupo negro de NY – grupo que adotou o sapateado (tap).
Cantar, dançar e sapatear - fundamento reconhecido como obra de um "artista completo", princípio que move os espetáculo da BroadWay em Nova Yorque além dos musicais de TV.
Cultura Norte-Americana
Socialmente, a “invenção” de uma cultura norte-americana teve numa parcela de classe média “afro-americana” o papel de “autoridade” intelectual. São negros militares, religiosos, burocratas e profissionais liberais e professores, classe atualmente chamada "africana-americana". A esta camada, cujos padrões de civilização se distanciaram da cultura popular, chamada “folclore”, foi de grande estima perceber as manifestações culturais dos pobres – “the real negro”, “original negro”.
A qualidade “ser original” é um estereótipo para designar um negro rebelde, orgulhoso, artista “que vendeu a alma ao diabo”. Portanto, o "original" está em oposição aos religiosos, protestantes norte-americanos. Jazz, Swing, Boogie, Rock, Funk – são antigos modos pejorativos e sexualizados para falar mal de uma “festa” de negros. Hoje, é motivo de orgulho nacional, apesar de conviver com as sobras do racismo...
Sob este apelo surge a figura de James Brown, “negro original”. Apesar de ter sido criado no Sul, Batista, educado em músicas de louvor – sua energia para cantar potencializou o estilo gospell - botou no “
Funk”. Sua consagração foi diante das grandes plateias do Harlen, a “Meca Negra” de Nova Yorque (anos 50). Fez seu primeiro show ali, gravado com recursos próprios, depois foi chamado às grandes gravadoras.
Funk”. Sua consagração foi diante das grandes plateias do Harlen, a “Meca Negra” de Nova Yorque (anos 50). Fez seu primeiro show ali, gravado com recursos próprios, depois foi chamado às grandes gravadoras.
Com as mortes de Malcom X e Martin Lutherking, Brown foi eleito garoto propaganda da paz, um gueto-boy de palco para acalmar a população enfurecida. Acusavam o governo racista pelas mortes. Diante do público, além de cantar, Brown mostrava uma dança arrojada, o funk Good Foot – adotado pelas massas negras.
Em todas estas transformações há um espaço de apresentações e interatividade determinantes na construção da cultura norte-americana em termos de uma música e sua dança. O ingresso na cultura universitária marca um papel nitidamente nacionalista – “música americana”, em oposição ao sentimento de “colônia europeia”.
Comunicação de Massas
Artistas da música e da dança ganharam o país através das rádios, cinemas e TV: Elvis Presley no rock, James Brown no funk, Fred Astair nos musicais de sapateado - ampliados dos centros urbanos para o resto do planeta.
Uma discussão corrente em Comunicação de Massas trata da fórmula, a maneira como a indústria da mídia adota produtos culturais precários, independente da inteligência dos estudiosos acadêmicos. No fim, produtos duvidosos transformam-se arte e a universidade em mercadoria, artistas e professores disputando postos de trabalho como "feudo de mercado". Os anos 50 e 60 são especiais nas artes dominadas pela mídia, preparatório para a geração “sexo, drogas e rock’n roll”, que balizam o universo under-grounds anos 70 aos dias atuais – agora com festa rave. É a constante revolta dos jovens contra o sistema - um mundo sem graça e espontaneidade.
Funk vs. B.Boying
A dança Funk é na verdade o “carro chefe” de todas as linguagens no Street Dance, um marco referencial para novos gêneros. Frank Ejara, em curso oferecido em Joinville (2005), enumerou as danças fundamentais do Funk: Good foot, Funk robot, Rock stedy, Funk pinguim e Funk chicken. Michel Flor, em monografia para curso de educação física UNESC, conclui dizendo que “Street Dance significa Dança de Rua” e sua estrutura teve na música-dança Good Foot, de James Brown, a base para o “Hip Hop Freestyle”. Seus derivados, o Woblee e o Top Rock; são os fundamentos na dança B. Boying.
Alien Ness da Zulu Nation afirma que o B.Boying surgiu ainda 1973, com o fundamento “hip hop”, como “balançar o quadril no estilo livre”, mas Edson Luciano Gonzaga em 2006, B.Boy Guiú, atribui a forma atual aos B.Boys Hery Link e Buddha Strecht, por volta de 1984.
Algumas obras utilizadas por Maxwell Flôr:
COHEN, Renato. Performance como Linguagem. 2o ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
EJARA, Frank; Sô, E. Dança de rua original. Apostila discípulos do ritmo. Festival de Dança de Joinville, 2000.
FLOR, Michel. Street Dance e suas pluralidades. 2006. 61f. Trabalho de Graduação (Disciplina de Metodologia Científica) – Curso de Educação Física, UNESC – Universidade do extremo sul Catarinense, Criciúma, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 40o ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 2005.
Lobo, Lenora; Navas, Cássia. Teatro do movimento: um método para o interprete criador. LGE editora: Brasília, 2003.
VARGAS, Soyane. Diferentes linguagens na educação física: Projeto hip hop na escola. Relato de experiência. Revista Digital – Buenos Aires – Ano 10 – No 90 – Novembro de 2005. Disponível em
Sobre o autor:
Maxwell Sandeer Flor é coordenador do Grupo União Dança de Rua, criado em 1999 pelo Setor de Arte e Cultura da Unesc, é coreógrafo na modalidade "Locking Individual" e um dos organizadores do Festioval "Garopaba em Dança".
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