Zine ZerØ ZerØ

Porque tudo começa do zerØ____e pro zerØ até pode voltar.

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*Este especial foi reeditado - por motivos de embelezamento e ficar no grau adequado para saudar o ilustre militante, histórico em Acari e região.
Nosso Querido Poeta Deley!



Martin Luther King
“A liberdade é conquistada por nós      
                         e jamais nos será dada pelo opressor”.





“Pelos pacatos que se foram

Pelos justos que ainda vivem

Para que morram velhos e sãos.

Na calada da noite

Traiçoeiros como serpentes

Eles invadem nossa quebrada

Como se fossemos um país inimigo

E nossa gente tranqüila seus algozes

A quem tivessem que esmagar

Com seus coturnos sujos

Da lama de nossas vielas.

Então, coronha de suas AKAS

Arrebentam portas e janelas

Destroem nossos barracos

Esculacham nossas mulheres

Escarram brizolas ressequidas

De suas narinas nas nossas panelas,

E vão embora como se fosse normal

Toda crueldade que cometem

Contra nós.

Porque somos pacatos

Pensam que somos covardes,

Porque somos humildes

Pensam que somos submissos.

Porque somos calados

Pensam que aceitamos sem reagir

Que espanquem, torturem, humilhem

E chacinem nossos meninos.

Porque rosnam e babam

raivosos feito Pit bulls

Pensam que ficamos

paralisados de terror

Porque amamos a paz

Pensam que tememos a guerra

Porque veem a comunidade

como um campo de concentração

Pensam que ficarão impunes

seus crimes perversos contra

O povo de nossa favela

Porque trazemos os braços abertos

e as mãos vazias pensam

Que não temos outras armas

para lutar em nossa legítima defesa.

Maior que o ódio e a crueldade deles

é nosso amor pela justiça e a verdade.

E o Hip Hop

(sem desprezar o valor de outras armas)

é a arma que escolhemos

Para criar na nossa Acari um definitivo

Clima organizado da Paz.




Gestores do Projeto Quinto Elemento e N’Atitude MC’s
– D.W, Nato Black, Deley de Acari e Wesley Delírio Black

Acesso: ALERJ

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/taqalerj2006.nsf/5d50d39bd976391b83256536006a2502/9898fec6c52bb42e83256d9100780d70?OpenDocument





Já cansou? Quer desistir? Só apertar aê:






De volta ao Poeta deley, então.

   Falar do Poeta Deley é uma tarefa de muita responsabilidade - com maior cuidado possível para não resumir um ser humano a nenhuma tarja, nenhum rótulo. Exige uma certa revisão do que é a tomada de contato com a temática humanitária - que faço agora como Poeta, como Poeta Xandu atuante no ZineZeroZero. Na caminhada de um estudante na área de humanas, especialmente em ciências sociais, o mercado de trabalho é algo conflituoso - a tentação de ir trabalhar na rede bancária é grande!

   São poucas vagas para se atuar na área de humanas, um campo de trabalho quase sempre mal remunerado. Depois de formado, este campo torna-se melhor remunerado, porém mais acirrado, com as exigências de pós-qualificação intermináveis. São exigidos o mestrado e o doutorado - cursos bastante puxados, difíceis mesmo - uma vitória para quem faz. Na fase de graduação a solução é manter-se firme: em pesquisas eleitorias, em pesquisas de mercado, em iniciação científica, nos estudos. Atuar em ONG's é também um caminho dos mais comuns - foi meu início.

   Um pouco antes de a Fábrica de Esperança ter sido lacrada (depois demolida), pela má condução de sua direção, por um pastor local de Acari, eu e meus colegas de trabalho tivemos a oportunidade de conhecer o Poeta Deley. Enquanto trabalhadores atuantes em oficinas de motivação social, reviramos a bibliografia sobre a região e descobrimos o antropólogo Marcos Alvito. Sua pesquisa havia acabado de ser lançada em livro, sendo "As Cores de Acari" uma referência atualizada sobre aquela população.

   Neste rumo, descobrimos uma chamada do professor da UFF, que abriu um debate com sua turma, sobre a pesquisa e também para apresentar um de seus principais personagens - o Poeta Deley. Bem claro, o livro não refere-se a Deley propriamente. É sobre a vida cotidiana em Acari, ainda que isso seja também sempre uma obra incompleta - falar sobre vidas. Mas sua pesquisa só ganhou força por Deley tê-lo apoiado, abrigado Alvito na região, dando-lhe a confiança para morar 2 anos por ali - um real mergulho em vidas outras. Algo impensável para a maioria dos pesquisadores sobre favelas, violência e relações humanas em estado de pobreza - todos, quase sempre, muito distantes do real. A pesquisa feita é da melhor qualidade.

   Com esse primeiro contato, quando pudemos conhecer um pouco mais sobre onde estávamos, também não pudemos deixar de perceber a profundidade humana do Poeta Deley - uma pessoa firme, sensível, numa luta de proporções gigantescas. Sim, sua luta é humana, luta por uma paisagem melhor para aquela região de extrema precariedade. Não são excluídos, como costuma-se dizer, mas essa gente jamais foi incluída no Brasil "de bem": democrático, com leis iguais para todos, com direitos constitucionais. Lutar por isso, pela primeira inclusão é um direito de todos - um dever moral para quem se comove - uma realidade poetizada. Uma das 12 tarefas de Hércules foi dada ao Poeta Deley.

   Notamos na época um fato muito triste - o silência das instituições humanas dali, diante de um carro metralhado em blitz local: pai, três crianças, a esposa grávida e a pressa para se chegar à maternidade. Foi um fiasco humano e também um sinal de que o Estado ignora a segurança de moradores e de profissionais elevado gabarito, que lidam com essa população. Medraram. Sequer uma nota no jornal interno da instituição.

   Ficamos indignados na época - que silêncio era aquele? Era o silêncio institucional, auto-repressão da liberdade de expressão. Encontramos Deley muitas vezes depois de trabalhar ali. Sempre com seus alunos, sempre motivado pela poesia, sempre atuante nos debates, nos encontros sindicais. Era sua política pessoal, levar palavras onde a intitucionalização dos discursos não alcança.

   Com o grande impulso que o Hip-Hop tomou no Rio de Janeiro dos anos 90, rappers do Brasil inteiro visitavam a cidade. Antropólogos de si mesmos, os MC's sustentavam aquela missão: levar a não institucionalização do discurso até a última consequência. Poder conhecer o dia a dia de cada uma das periferias do Brasil, assim, nas rádios, nas praças noturnas, bailes, shows - era algo muito novo, muito liberado, muito pós-ditadura como nunca se viu. Muito diferente de clássicos da MPB, como a Roda Viva de Chico buarque, qualquer outra sintonia fina, poesia de mensagens secretas. O RAP era direto e curto, mostrava o lado ruim do estado com requintes de detalhes desumanos.

   Para nós que tivemos a oportunidade do estudo: ressurgia algo próximo do Brasil medieval (até a década de 30); também medieval era a nova literatura dos rappers: longas canções de gestas, lutas pela honra ferida, pela igualdade de condições neste combate tão atual. O cinema popularizou a violência, a TV levou armas para o conforto do sofá. Pela janela? Tudo mudou nas favelas, que já não eram um mar de paz, piorou com a chegada de metralhadora e fuzis nunca vistos nas mãos de "pretos, pobres, da periferia" - era a transição dos 80 para os 90. O funk ganhou uma pornografia monumental, do tamanho da AIDS, e até crack hoje existe no Rio - droga difundida para piorar a desumanidade.

   Então foi nos 90 que comecei a reencontrar aquele Bronx perdido - nada de música em inglês, nem miame bass, nem funk alegre, de melô. Atuei na Rádio JacaréPagua FM, uma pirata da CDD - quando MV Bill ainda traçava planos de viver de RAP. Em seguida foi a posse Retomada da Favela do Esqueleto, promovida pelo encontro dos militantes universitários com B.Boyz Reis, Jagal, b.boyz e rappers de Acari e Costa Barros, além de uma b.boyzada sem piso garantido no circo Voador. Resultou numa posse que existe até hoje dentro da UERJ, já com autonomia, moral própria. Foi neste modelo que recebemos a visita ilustre do Poeta Deley, agora emcampando a frente do Quinto Elemento em Acari. Foi também o encontro com Wesley, com Marcio Graffiti. Um grande encontro - pois era um dia atípico, de grande militância na posse, perfeito para receber o Poeta insatisfeito com a sociedade.

   Entre ONG's, projetos sociais, com futebol, com handebol, com Funk de Raiz, visitas militantes, encontros poéticos - segue o Deley. Infelizmente, segue cada vez mais só: vendo antigos militantes deixarem valores humanos porque "não enche barriga". Vendo instituições corruptas pagando de humanitárias. Sofrendo a desassistência em seus projetos, diante do assistencialismo remunerado, prol eleitoreiro. Hoje acompanho seu blog. Acompanho um pouco de seu desespero... De chorar o tapa na cara de um fanqueiro, um garoto ainda... A morte de um inocente morador dali. De naõ ter como se alimentar em alguns dias. De não ter como usar créditos no celular em alguns dias. De não ter uniformes, bolas, coisas mínimas em suas atividades recreativas. De continuar a enfrentar ameaças do Estado, mobilizar forças contra a repressão off-midia. De às vezes questionar-se o quanto de sua vida dedicou às mudanças que pouco acontecem. Por vezes sentir-se deserotizado deste mundo, desencantado com o silêncio na sociedade, triste mesmo.

   Valeu? Vale? valerá no futuro, como história? Espero, sinceramente, que ele mesmo não leia isto. Rever a própria vida, sem ser de próprio punho, deve ser algo triste. Não estou avaliando o quanto ele sofre, mas o quanto tod@s nós sofremos, sofreremos, enquanto essa situação de desumanidade continuar em vigor. Triste do país da Copa, triste Olimpíada de nossa população - viver o feudalismo, o cangaceirismo e a barbárie em pleno século do computador, do celular, dos aviões baratos, do asfalto e do transporte de massas... Tudo isso - sem alcançar uma boa educação, sem alcançar a moradia digna, sem atingir o "meio emprego", ainda menos o sonhado "pleno emprego". Quer saber? Chega de escrever isso. Também fiquei triste agora. Vou fazer uma poesia - me parece mais justo com o Deley, comigo mesmo. Valeu poeta Deley, que suas palavras sejam forte, as poesias doces e seus sonhos sejam sempre as de um anjo - como sempre foi.

   PXND.












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