Zine ZerØ ZerØ

Porque tudo começa do zerØ____e pro zerØ até pode voltar.

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Outro dia, há uns 10 anos atrás, o povo dos movimentos sociais começou a falar desse cara, esse escritor misterioso... Ferrez... Quem é esse cara?
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Ferrez é O Ferrez. O prestígio era grande, seus textos engajados circulavam nas revistas e jornais ligados a militância social, falando das favelas de São Paulo - era o Mano Brown da literatura, uma literatura marginal. Alertavam: olha, existe quem queira ajuda e existe quem quer se ajudar!! O Ferrez queria. Queria ser poeta, queria ser escritor, um escritor que fala a língua da favela. Como, se o povo não sabe ler? Não sabia, não tinha o que ler, não teria porque ler uma biblioteca inteira que não entendia. O resumo é que ele fez: montou sua banca lá na Zona Sul de São Paulo, apostou na idéia de que o povo quer ler. Partiu do zero, com uma crítica social forte e uma poesia de primeira, daí passou a ter entrada, até mesmo coluna editorial na importante revista Caros Amigos. Só podia dar certo mesmo.
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Nesses dez anos vimos muita coisa surgir. Ferréz tem muita disposição e muque no braço, construiu a "1daSul", uma loja cheia de Hip Hop, literatura marginal, roupas para entrar bonito nos bailes - tudo com a etiqueta "made in favela". Por trás da marca, um povo cheio de talento, que no mercado não é bem visto. Que nos jornais é tirado de marginal, que num presta, que é meio preto, que não faz nada. É mole? Na 1daSul não tem disso não! Ali o povo é rei! Se quiser faz roupa, faz moda. Se quiser faz um rap bem suave no seu ouvido, se quiser faz uma discotecagem de pancadão, principalmente: se quiser pode contar com o Selo Povo para lançar seus livros - "livros esses escritos por mãos operárias, rebeldes, marginais, periféricas..." Esta foi sua última grande idéia, fazer livros de bolso, para quem precisa ler e não encontra tempo, para quem tem muito tempo e não encontra livro. O preço é um pouco mais caro que uma cerveja e bem mais barato que um PF, o prato feito, almoço de boteco, coisa da rua. "Esse selo garante um livro de fácil leitura e que será lido, relido, emprestado e gasto". É a editora Literatura Marginal, uma proposta ousada que combina perfeitamente com todas as atividades programadas: prestigiar os bailes de Hip Hop, os saraus da Cooperifa, circula por todo o país - para fazer turismo? não! para conhecer o povo igual ao povo, sua fala, sua escrita, seu estilo e voz afiada. Chega! O resto Ferrez fala por ele! Dá um pulinho lá em Sampa pra ver! [http://ferrez.blogspot ponto com/]
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A marca 1DASUL nasceu com a idéia de ser socialmente justa, patrocina quermesses, festas comunitárias, shows de Hip-Hop, além de oficinas e palestras literárias, também ajuda a manter projetos sociais na Zona Sul de São Paulo. Ferréz é escritor, autor de 5 livros, e está lançando "Cronista de um tempo ruim". E ficamos na dúvida se podemos colocar um texto dele aqui... Pedimos, é verdade, mas não respondeu. Até agora não sabemos se isso é certo. Mas, mas, mas... Chega de mas-mas-mas! partiremos pro mais-mais-mais, acompanhado de um palhinha do blog: para conhecer a incrível e maravilhosa FEIRA DO ROLO!! Só quem viu sabe, só quem sabe faz. Ferréz fez, faz, faria, fará fazendo!
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Feira do Rolo
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Ao longe agente já pode ver um monte de barracas, quase todas com uma lona amarela cobrindo para eventuais chuvas, ou mais provável, para proteger do sol o que elas deixam a mostra. Pela estrada de Itapecerica é mais fácil, mas ela não tem só um endereço, na verdade tem dezenas, e talvez até centenas. O terreno da ultima vez que foi usado foi por um circo, não o circo que recebe mais de nove milhões da lei rounet, não esse que te falo é nacional, com trabalhadores oriundos de várias quebradas, Pernambuco, Bahia, Minas, só brasileiros cansados da seca, do desemprego, mas que no fim do dia põe o sorriso em outros rostos.
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O circo passou, o parquinho de diversões também, mas o terreno ficou, vazio, empoeirado, poeira essa que se levanta quando as primeiras barracas começam a ser montadas lá pelas sete horas da manhã. São três corredores, metade da feira espõe no chão mesmo. Pra estacionar o carro é uma calamidade, afinal na feira do rolo, todo mundo quer vender ou trocar algo, e não é difícil você ver homens testando motores, quase encostando o ouvido no bloco de ferro para ver se está falhando. Muitos deixam os carros abertos, ai um entra, fuça, senta, mexe no porta mala, vai ver que se apaixona?
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Esse é um Puma moço, tá zerado, pintura ok, tá novinho. Então porque tá passando ele? Tô com problema com a muié, sabe né?, tô desempregado. Mas é bom você não ir para grupo, todo mês ele tem um carro ou dois para vender, então esse problema com a mulher é eterno.
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Levo algumas fitas VHS, os filmes bons eu guardei, ação, aventura, mas os pornôs não dá para ficar, depois que fechei a locadora, não há mais espaço para nada em casa. Andando com os filmes, nem precisei oferecer. Quer fazer rolo nessas fita? Me abordou um homem que um dia foi branco, mas hoje o sol mudou isso, sem camisa, calça jeans até o tornozelo e com um amigo do lado, também moreno, só que com camiseta regata branca.

O que você tem aí? - eu arrisco. Tem isso aqui! E o sem camisa puxa da sacola um vídeo-game Super Nintendo, sem controle, sem cabo, eu olho rapidamente e pergunto quantas fitas ele quer. Antes de responder o amigo dele se intromete e fala que tem um dvd de karatê pra rolo e pergunta quantas fitas dou nele. O sem camisa encara ele, afinal ele ta atravessando o rolo...

Eu falo que dou quatro fitas, ele aceita, pega o dvd e me dá, Dragão Negro, já sei na hora porque ele não quer, é legendado, e isso é um grande defeito por aqui.
O amigo pega as outras fitas na minha sacola e começa a olhar, então pede. Deixa todas? Eu penso, tem 7, olho o Super Nintendo e sei que é mais fácil de trocar do que fita, topo e saiu em seguida.
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A Elaine tá comigo, não tira os olhos da barraca, tanta coisa, telefone antigo, aparelho de som, celular, mas o que predomina é peça de carro. Agente anda com dificuldade, de cada seis pessoas que agente vê, uma tem um vídeo-cassete embaixo do braço, e outra tá levando uma bicicleta. Um homem me pára e pergunta apontando para minha corrente. Gosta de corrente? Gosto sim, respondo. Ele abre a camisa e fala. Vê essa? Dá cinco nela? Eu digo que não, uma tá bom, dou boa tarde e saio, o outro tá olhando pra minha sacola, pergunta o que é, respondo que é um Super Nintendo, ele sai. Ali é assim, tudo muito rápido, interessou tem idéia, não interessou tchau.
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Vou andando e paro numa barraca de games, olho um Master Systen, lembro que minha mãe me deu um... Porra! trabalhei dois anos na padaria e não consegui juntar o dinheiro, e agora ele num vale nada. Na época minha mãe me deu um, na hora que vi meu coração balançou, e agora de novo, chamo o cara no rolo, ele pega o Super Nintendo e fala. - Sei não, olha aqui, esse tá queimado...pegou aonde? - Ali, no cara, ele tava andando. - Hi! Então tá ruim mesmo, tá todo zuado, olha o parafuso, tá espanado, e isso aqui em volta é cola, o cara abriu e quebrou tudo, mas eu pego no escuro.
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Eu fico pensando, os caras são gênios, acabei de pegar o negócio e não reparei nada, ele já pegou e agora o aparelho vale muito menos, depois de cinco minutos estou com o Máster Systen na mão, com o meu Super Nintendo e com quinze reais a menos no bolso, agora já começo a andar atrás de um controle, depois de dez minutos acho um, cinco reais. Então eu e a Elaine decidimos ir, enquanto ando, passo por uma barraca de VHS e vejo uma fita de um dos episódios do arquivo X, já sei que vou voltar na outra semana pra comprar, mas nem precisei desse motivo, o vídeo game não funcionou. Então é outro domingo, lá vamos nós de novo, levo o vídeo game e apresento ao senhor. O quê? Não funcionou? Num tem problema, pega outro aí, e dessa vez vamos testar.
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Então pego outro aparelho e o ajudante dele me leva na perua Combi, que faz os testes, chego lá um monte de gente com vários aparelhos nas mãos fazem fila para o testador, um pernambucano de 29 anos, camisa social, todo molhado de suor, nos olha com calma e pergunta o que é. O Alemão mandou testar esse vídeo game aqui! O testador pega o Máster, coloca na tomada, agente liga e acende a luz. Tá testado - ele diz. O ajudante do Alemão com ar de experiência diz - Luz acesa num indica nada, liga o jogo! O pernambucano meio contrariado liga o resto do aparelho e o jogo aparece na tv. Agora sim.
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Mas antes de entregar, ele tira um pincel, pega o aparelho e dá uma limpada, depois diz - Tá vendo? Tem gente que acha caro, dois reais pra testar e eu ainda limpo o aparelho. Chegamos na barraca do Alemão de novo, antes o ajudante dele me diz que só faz esse bico para não ficar em casa. - Minha mulher é foda, enche meu saco, tá grávida, então se vê né? Prefiro ficar aqui, ajudo o Alemão, mas meu ramo é segurança. Eu ouço atentamente, aprendi com os repórteres da Caros a ouvir. A poeira levanta, o calor tá de matar, o número de pessoas aumenta, eu pego o vídeo game e saiu, estou quase saindo da feira quando vejo a barraca de VHS, pergunto o preço da fita do Arquivo X. Pago os dois Reais, mas vejo vários outros filmes, compro mais dois, e um deles é o Bullet, clássico estrelado por 2 Pac.
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Empolgação. Fazia tempo que estava atrás desse filme, mas esqueci que na feira do rolo você nunca pode se empolgar... Então, horas depois quando ponho o filme no meu vídeo e sento na sala esfregando as mãos, vejo que começa a passar, em vez de Bullet, o filme era pornô. Semana que vem vou lá de novo ver se acho um rolo pro filme.







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