Zine ZerØ ZerØ

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   Desde o início dos tempos a vida humana tem sido retratada através do desenho. Muito mais que pela escrita. O passado de mais de dez mil anos atrás ressurge no teto e nas paredes das cavernas, desenhos muito curiosos contam histórias de quando Raul Seixas ainda era uma criança. A arqueologia desperta os estudiosos para uma história que não foi escrita, mas foi desenhada.

   O Brasil não se valoriza, a nossa história não é feita só de bandeirantes, senhores de engenho, capitão do mato - temos outros heróis. Sabe como é? O povão puxa pela cor...

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    Daí ficou assim: lá, Europa, é o "velho mundo", que viveu mais, sabe mais - vieram para educar "os selvagens" - nós outros... O Homem Brasileiro-Americano já ganhou sua maioridade no tempo ancestral, seu certificado de "di maior" garantem: são 80 mil anos bem vividos!! É tão velho, tão, sábio, tão-tão como é o europeu, o africano, o chinês ou o árabe. A arqueóloga Nanci Vieira descobriu em Itaboraí/RJ uma igreja de trezentos anos - erguida no matagal só para civilizar os Tupinambás, tidos como "perigosos selvagens" da região. Os jesuítas batizaram como Aldeia de São Bernardo, índios super-brasileiros, que em nome de Deus viraram escravos, sem-terras, mendigos, cachaceiros. Tudo de pior, como nunca se viu por aqui nos últimos 80 mil anos.

   Niéde Guidon fica arrepiada ao encontrar vândalos no Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 1979 no Piauí. Neste local está o maior conjunto de desenhos pré-históricos do Brasil. A cada dia um pouco disso se perde, com os engraçadinhos, que preferem pegar numa lata de tinta, viajar até o sertão para colocar seus nomes, seus amores e desenhos horrendos por cima destas relíquias.

    O Hip Hop discute esse tipo de assunto, quando pensamos nos pixadores: rabiscar por cima de outras TAGs não é nada bonito, não é educado isso. É um código interno da rapaziada, uma política de boas maneiras e de bom convívio - eu acho, talvez...

   Os muros do Hip Hop contam histórias de gente esquecida nas favelas e muitas vezes o próprio escritor não sabe disso. Algumas assinaturas ficam, por muitos anos mesmo. Pensamos nos pixadores, vemos sua evolução natural: a competição de assinaturas passou gradativamente da quantidade para a qualidade. Primeiro foram alturas, os lugares impossíveis, que o sujeito olha e se pergunta: como o cara chegou lá no alto? Mistérios...

   Depois foram as revistas em quadrinhos, influenciaram as Tags e transformaram as assinaturas em belos desenhos. Algumas TAGs são bastante sofisticadas, bem elaboradas. Outros, deixam a imaginação fluir, querem competir no mercado de arte, junto com pintores famosos. Outros são mais do que belos desenhos, são inteligentes. Porém, tudo depende da técnica dos traços, muito estudo de luz e sombra, perspectivas e volumes, planos de horizonte e espaço em 3D.

   Cris Silva sabe tudo. Da concepção surge a idéia, com muita técnica se faz o sketch (rascunho) e só depois a Arte vai pro muro. Natural de São Gonçalo/RJ, flamenguista e gozador, conseguiu traduzir bem o espírito da cidade numa caricatura super bem humorada. O grande Rio é um só, tudo carioca e no Maraca ouvimos a torcida: Obina é melhor que o Etôh!!! Uma pequena frase, uma grande percepção de como é o jeito do Rio, transformada em grafitagem numa parede bem próxima a você. Não é pra qualquer um. Afinal, desenhar é uma arte.
Valeu Cris Silva!!

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