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B-Girl - A Hora e a Vez da Mulher
................................................................... Já estávamos com a pulga na orelha... Primeiro foi a Prima Donna, psicóloga e ativista hiphop do Grafiti Com Atitude, B-Girl de responsa – a auto-imagem da mulher precisa ser trabalhada com o devido cuidado e apoio sincero da macharada. Depois veio Sunny Kanoi, rapper de língua afiada, forma no grupo Mente Urbana, professora na cidade Diadema/SP. Espetou e não dava mais pra segurar.
Cadê as B-Girl nessa baiúca? Treme a terra!
Uma manta grossa abafa a mulherada. Desde as dificuldades presentes numa sociedade machista (a nossa) até o tipo de orientação política e cultural. Não é de hoje, são problemas antigos, imagens que se misturam e confundem. Mulher, que troço é isso? Maria Maçaneta ou Maria Sapatão? Seria a Maria, na cozinha, na limpeza doméstica? Seria Dona Maria, rainha do lar, cheia de filhos, a sombra de seu marido? Seria Maricotinha, menina mimada, criada para ser boneca Barbie? Seria Mari na pista, vendendo o corpo? Ou estamos falando da mulher do futuro, senhora de si, ativista sensível e sem preconceitos, mulher de luta, liberdade e respeito? É por esta que nos dobramos a majestada, a verdadeira B-Girl!
“Nunca subestime o trabalho de uma mulher. Compreenda que, como vocês, elas também precisam de apoio mútuo para crescerem. Deêm oportunidades e evitem as rodinhas tradicionais de homens, em eventos ou ocasiões em que elas estiverem presentes, para que elas possam participar, dividir experiências, dificuldades e expectativas.”
Claro, não podem conquistar as coisas sozinhas. É o trabalho educativo que permite saltar das conclusões pessoais para interferir no meio ambiente, na crítica e na ação anti-machista. Não é preciso abandonar a “mulherzinha” que existe dentro de você, deixar de lado pequenos melindres e doçuras, mas reverter tudo isso para o crescimento da consciência. Ter a cabeça aberta é bom para formar num coletivo, homens e mulheres dispostos a discutir relações sociais e melhorar o nível dos diferentes ambientes: casa, trabalho ou na roda de break. No break é comum a louvação do homem, o b-boying. E a mulher dança o quê? B-Girling? É inferior? É uma outra categoria? Sei não... No Tribus 2008 as B-Girl Ingrid e Bruna mandaram bem. A dupla provou e comprovou: versatilidade, estilo e técnica.
A menina é ensinada a ser “mulherzinha”, quase todos esperam isso dela. Ainda cedo, ganhará panelinhas, bonecas bebezinho, vassourinha... Cresce e aí já era – está lá, formada na vida privada, educada para o lar. Se a mina cola na banca do break muitos vão pensar logo – ela quer dar beijo na boca. A referência logo deixa de ser “cata-bboy”, gata que circulou na roda, até virar “a namorada do b-boy fulano”.
O tempo passará, sem que ela tenha opinado sobre machismo, racismo, mercado de trabalho, maternidade... Cheia de filhos, o casamento poderá se desencantar, o cara foge e a filha dela será mais uma filha sem pai, neta sem avô. Mas não é tarde, não! Ainda dá tempo, faça por ti, minha gatona de luta! B-Girl completa!
O menino é também educado, do revolverzinho de brinquedo ao carrinho, a correria atrás da bola, a pipa voa e ganha os céus – é macho e entra logo na vida pública, na sociedade. Na sociedade dos machos, claro, lembra o rapper GasPa, que também trampa educação. Só de longe se ouviu falar que “dos filhos desse solo és mãe gentil, pátria amada Brasil”, num país nada gentil e seus filhos aí, ó: brigando no mundão. Kanoi já disse isso, o brasileiro se julga muito liberal, mas é conservador, cínico e caretão. Cabe ao B-Boy, ao carinha movido pelo hiphop, aplicar a sua vida os conhecimentos desta proposta, o quinto elemento. Não diminuir o bailado das gatas, não se fechar em clube do bolinha, não tratar a B-Girl como “mulher sexualmente interessada” – pode até pintar um clima, mas sem forçar a barra, tá legal? Incentivar, treinar junto, dar umas dicas, criticar e elogiar – isso fará uma B-Girl e não uma mulher-coisa.
Neuza, educadora do Espaço da Criança e do Adolescente (CIACAC), recebe voluntários estrangeiros, que sempre ensinam novidades as crianças. Alguns acham a cultura funk estranha, ver crianças envolvidas em danças sexualizadas. Aqui é favela, eles acham o quê? me pergunto. São crianças, num mundo de adultos, muitos destes, irresponsáveis. Não há problemas nisso, a erotização é parte do ser humano, mas há certo descaso de agências do governo e da ONU com as famílias pobres e falta de empregos. Neste país a obediência é o princípio e a baixa educação é o fim. Buzo, sempre atento, catou esta frase de Nega Gizza: “Temos que ser poliglotas da nossa própria língua.” É isso. Não é fácil para um brasileiro, tantas vezes analfabeto, ter acesso a livros, circular em debates, pensar, projetar, compartilhar e realizar. GOG perdeu a conta, sempre é perguntado se é a favor da legalização das drogas... "Legalização do feijão com arroz, isso é bom!" - ele faz! Quem faz? São poucos. Ficamos a espera, que as idéias venham prontas, reduzidas em projetos. Não.Temos muito espaço para ocupar e, nele, a mulher estará presente. Todos os livros do mundo de nada servirão para quem é acomodado mental, faz as coisas sem pensar nos outros e até em si mesmo. Que papelão, héin?! Na luta, é preciso saber formar com quem é de luta, com compromisso e, nem por isso, perde a alegria de viver.
Russo atua na Artilharia Pesada da Rima, grupo de hip hop que mantém a educação como compromisso. Suas oficinas se misturam com programas de governo, como Programa Escola Aberta, Fica Vivo, Pro-Jovem, usando e abusando das lições do hip hop. São parcerias resultantes de pelo menos 6 anos de dedicação, na promoção de eventos nas comunidades e discussões culturais e políticas. Para isso, formaram uma rede maior com o nome Coletivo Hip Hop Chama em Belo Horizonte, através da qual pode refletir sobre educação, sexualidade e gênero. É difícil tratar esses temas tão delicados, principalmente despertar a atenção das meninas e meninos para este assunto, tabu social.
Atitude Mulher, grupo só de meninas, bota ênfase na discussão de gênero, devidamente acompanhadas dos elementos do Hip Hop no palco. Neste ponto, o protagonismo das mulheres é um peso importante, afinal, existem essas “coisas de mulher”, assunto reservado. Calças justas, muito brilho, correntes, tênis, lenços no cabelo, a faca na língua – as moças foram bem representadas no Festival Consciência Hip Hop 2008. Aliadas Periféricas quase dispensam a entrada dos homens no palco, pois no microfone são elas e são capazes. La Bella Máfia não fica atrás e faz pelo Sul do Brasil, POA firmeza. Pequena Gigante faz tremer os muros de Minas - com ela é pão-pão, queijo-queijo. B-Girl A-ní encara de frente a macharada nas batalhas de seu grupo, Street Breakers/SP, e mostra que também faz bonito como juíza. B-Girl Karen também vai além, forma, organiza a cena break em Mogi das Cruzes. Paulinha Kajiwara já disse: - I Block Party! A B-Girl só ganha com sua atuação firme e o reconhecimento é ver aumentar o número de competidoras e mulheres a frente dos palcos do hip hop.
Vera Veronika é da velha guarda e está nas paradas desde 1992. Mãe solteira, dedica-se ao lar Recanto da Paz, além de fazer por sua própria cria. Ali, crianças sem condições familiares apropriadas recebem o carinho e toda força de sua administradora, que se desdobra para manter o nível da casa. Acha que é muito? Tem mais! Inquieta, participa ainda das discussões e propostas do Coletivo Feminino do DF e no Fórum de Hip Hop do DF manda bem também. Rapper e pedagoga, é uma mulher de luta, chega junto da molecada nas favelas, além de mandar bem nas palestras e nas inúmeras produções que fazem seu hip hop fluir. Meteu a mão, fez. Trata-se do CD Vera Veronika Canta MPB-Rap, com 26 faixas de total sucesso em nossa banca.
Bianca Monteiro é a Bia, grafiteira de Duque de Caxias/RJ. Ainda se lembra dos medos, da vergonha de tirar os primeiros desenhos do papel e segurar firme a lata na mão. “...ainda tenho dificuldade de traçar os desenhos, fico com medo de fazer algo errado”. É a pressão da rapaziada... É sua coragem de enfrentá-los. Gabriela Alves é a Beg, da Vila Aliança, evoluiu bastante e resolveu questões familiares: “Quando comecei a curtir grafite, minha avó dizia que era coisa do demônio e implicava comigo”. Distraída, a fotógrafa Andrea Cals confunde “Eles [os homens] são mais ligados ao grafite em si”, mas Lisa (Gisele Alves Silveira) protesta: “Tem sempre alguém que diz que grafite é coisa de homem, que a gente vai acabar virando sapatão!”. Diálogo em construção, é o que pintam as Grafiteiras pela Lei Maria da Penha.
Para ficar bem na foto, são necessárias as fotografias de Clarissa Pivetta, clicando arte e educação pelos morros do Rio, como as de Kajaman, exergando flores em lugares como "O Coro Come" em BH.
Falamos de uma cultura nova, de mais paz e comunicação, mas não é o que vemos. Também não é fácil, exige dedicação, vontade. “É melhor ser educado para o amor (mesmo que este seja um conceito questionável), do que para a guerra. Acho que esta é uma tarefa para os novos homens, quando tornarem-se pais.... Ensinar a seus filhos a serem pais, a cuidarem do espaço doméstico... , não só dos atributos do espaço público, e assim por diante." É o recado da Marcelinha, grande Prima Donna, que fez história no Coletivo TPM de Graffiti. “Me critiquem a vontade, vamos dialogar.” Ela não tem medo, mano! Medo de quê?!
Deixo aqui uma poesia de combate. Só não vale matar o marido, espancar o namorado, brigar na rua. Beleza, meninas? O bom combate tem só um objetivo: paz para todos! Dedico às mulheres que fazem, em especial: as minas da Ave Crew, Sunny Kanoi, Prima Donna, Neuza Nascimento, escritora maneira, Isa, minha mana que aguarda um lindo bebê (de luta!), e aos Poetas Sem Fronteiras, uma família nova aqui pelo Recreio.
São os votos do Poeta Xandu.
Maria
ou
Para Despertar a Fúria Revolucionária da Mulher
Hoje.
Hoje Maria nasceu pequena, doce, como tantas outras hoje.
Nasceu com seu grito, seu chorinho lindo.
Hoje Maria berrou, esperneou, sapateou de raiva quando percebeu por que caminhos, por quais sendas, desalinhos... Querubins por toda infância. Fácil seria torná-la doce, com doces palavras, carinhos, aplausos.
Hoje Maria é casa comida, é roupa lavada. É arrumadeira, passadeira, babá e na cozinha é até uma fada. Não. Não porque o faz de graça, mas que todos são, que todos façam. Todos são tão fortes, decididos. Todos são tão fracos, estremecidos, por olhares invisíveis que vêm: da mídia, do machismo, do apartheide, da polícia.
Maria sabe tudo. Sonha e não sustenta barrigudo; samba e não tolera sem vergonha. Rala, trampa, trepa, cozinha, faz tudo.
Dia da criançada, dia da alegria e também da luta por melhores dias.
a fúria revolucionária da mulher !!
É hoooooje Mariiiiiaaaaa!
É isso mesmo Mulherada! Garra e Atitude!!
2 comentários:
Gostei da postagem, é muito importante informar o ativismo da mulher no hip-hop, na sociedade, mostrar que mesmo dentro de uma sociedade machista, conseguimos nos libertar de pressões pisicológicas que vem pra nos diminuir e reprimir. A mulherada está conquistando cada vez mais o seu espaço, e além de evoluir, uma encoraja cada vez mais a outra... E claro que é muito bom e importante também ter homens nos apoiando e incentivando.
Abraço
Jhei
Gostei da postagem, é muito importante informar o ativismo da mulher no hip-hop, na sociedade, mostrar que mesmo dentro de uma sociedade machista, conseguimos nos libertar de pressões pisicológicas que vem pra nos diminuir e reprimir. A mulherada está conquistando cada vez mais o seu espaço, e além de evoluir, uma encoraja cada vez mais a outra... E claro que é muito bom e importante também ter homens nos apoiando e incentivando.
Abraço
Jhei
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